Um tesouro de inestimável valor
Sem desprezar o enorme contributo de muitos outros setores e instituições, creio poder afirmar que, no Ocidente, a Igreja é o principal agente produtor e difusor de arte e beleza. Consequentemente, de bens culturais. Em qualquer âmbito: da arquitetura à imaginária, da pintura às artes decorativas da paramentaria e da ourivesaria. Mas uma instância que, historicamente, com ela se relacionou em grande parte, é a música.
Cabe-lhe a glória de a ter democratizado, favorecendo a composição, apelando ao acompanhamento musical dos grandes textos sagrados e pondo o povo a escutar e a cantar esses trechos, como verdadeira oração, em qualquer circunstância da vida: do batismo ao casamento, da Missa aos ritos fúnebres. E muito contribuiu para credibilizar instrumentos que a acompanham, com óbvio destaque para o órgão, até há algum tempo conotado com a liturgia cristã.
Parece que a cidade do Porto possui a maior concentração dos mais excelentes órgãos do mundo: os de tubos! E na Diocese, muitas igrejas continuam a dotar-se deste instrumento particularmente apto para elevar a alma e favorecer o culto divino. Sinal de que o Porto sabe harmonizar uma tríade que muito nos enobrece: culto, órgão e música sacra. Isto é: culto e cultura.
Por esta razão, entra como em casa própria o programado Festival Internacional de Órgão e Música Sacra. O primeiro de uma série que se espera longa e ininterrupta. E que muito contribuirá para colocar esta cidade episcopal nas bocas do mundo culto. Consequentemente, para incentivar compositores e executantes, fomentar uma faceta do turismo cultural e, em última análise, gerar contrapartidas económicas.
Agradeço ao Prof. Filipe Veríssimo esta iniciativa que vai mobilizar vontades e fazer história.
+ Manuel, Bispo do Porto
One Comment
É com muita emoção, a par da recordação, que leio o excelente texto do Padre Dr. Ferreira dos Santos.
Sem dúvida, que comungo e subscrevo toda a ideia que desenvolve.
Hoje, estamos porém a atravessar uma crise de valores, onde o Estado desrespeita quem sabe, quem conhece, quem uma visa dedicou e dedica a esta parcela tão importante do património. O património organeiro português.
Sem que de forma nenhuma, queira acusar qualquer omissão. Mas também é preciso lembrar o esforço de alguns organeiros portugueses, deram e continuam a dar à causa da conservação e preservação dos órgãos em Portugal.
Talvez a eles se deve, grande parte do “ânimo”, da “plana lezíria” onde grande parte da nova geração de organistas, músicos, musicologos e outros, vivem e sobrevivem. Talvez também a eles se deve, a razão de muito do que se faz pelo nosso país ( reservo o que se considera de bem e de boa qualidade).
Penso que Portugal e sobretudo o Porto, carecia de um evento desta dimensão e com esta filosofia. Acima de tudo, construído em cima de profundos alicerces e não em cima de terrenos arenosos.
Bem haja a todos e de um modo muito especial, sobretudo íntimo. O meu profundo agradecimento ao Padre Doutor Ferreira dos Santos.
Ao Festival:
Estarei com profundo agrado, a dar o meu contributo de forma absolutamente convicta e como admirador.
O mestre organeiro
Dinarte Machado