Et de profundo lacu

Uma versão portuguesa do Requiem de Mozart

Nas últimas décadas do século XVIII surge na corte portuguesa uma tipologia de escrita única no contexto europeu: repertório sacro com partes solísticas para dois violoncelos e dois fagotes no acompanhamento das vozes. O aparecimento deste repertório foi motivado por diferentes circunstâncias, mas a mais significativa será o facto de a Capela Patriarcal, responsável pela produção musical sacra da corte, ter por tradição a escrita para vozes e baixo contínuo, estando a utilização da orquestra reservada a ocasiões especiais, de maior aparato. Quando, nas últimas décadas do século XVIII, a escrita para baixo contínuo cai em desuso e vigoram os modelos estéticos clássicos, esta condicionante é contornada através da engenhosa transfiguração dos papéis dos instrumentos do baixo contínuo. 

Esta “orquestra” de instrumentos graves tornou-se uma tradição na corte portuguesa até à primeira metade do século XIX, tendo sido disseminada a outros pontos do país. 

Ainda que sobrevivam obras para diversos momentos do calendário litúrgico, sabemos, nomeadamente através de diferentes fontes documentais, que existia uma especial ligação desta instrumentação com momentos de especial consternação e gravidade, como a Semana Santa, o Dia dos Fiéis Defuntos e as cerimónias fúnebres. Atestam este vínculo vários arranjos sobreviventes em manuscrito de obras como missas de Requiem de N. Jommelli e W. A. Mozart, ou os Mattutini dei morti de D. Perez. 

Neste programa, o Ensemble Bonne Corde apresenta o Requiem de Mozart numa versão anónima preservada em manuscrito no Arquivo Musical da Sé de Évora no qual a orquestra é substituída pelo grupo de instrumentos do baixo com violoncelos e fagotes solistas no acompanhamento de 8 vozes.

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