
Quatro Décadas de Som Sagrado
19 Outubro @ 21:30 – 23:00
Para assinalar os 40 anos do Grande Órgão da Sé do Porto, este concerto reúne um programa eclético que celebra a riqueza e diversidade da música para órgão ao longo de quatro séculos.
O prestigiado organista alemão Wolfgang Zerer conduz-nos por uma viagem sonora desde os mestres ibéricos e germânicos do barroco — como Cabanilles, Bruna, Scheidemann e Bruhns — até à sofisticação romântica de Mendelssohn e à poesia impressionista de Jehan Alain. O programa destaca ainda obras marcantes de Johann Sebastian Bach, figura central do repertório organístico, com peças que encerram profundidade espiritual e virtuosismo técnico.
Este concerto é não só uma celebração do instrumento monumental da Sé, como também um tributo à intemporalidade da música sacra, evocando o esplendor acústico de um espaço onde o passado e o presente se encontram em ressonância divina.
PROGRAMA
Nicolaus Bruhns (1665–1697)
Praeludium em mi menor
Johann Sebastian Bach (1685–1750)
Trio super “Herr Jesu Christ, Dich zu uns wend”, BWV 655
Pablo Bruna (1611–1679)
Tiento partido de mano derecha
Heinrich Scheidemann (c. 1596–1663)
Praeambulum e Canzona em Fá Maior
Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809–1847)
Sonata IV em Si bemol Maior, Op. 65 n.º 4
Jehan Alain (1911–1940)
Le jardin suspendu
Juan Cabanilles (1644–1712)
Tiento de Batalla
Georg Muffat (1653–1704)
Toccata VIII (Apparatus musico-organisticus)
Johann Sebastian Bach
Herr Jesu Christ, Dich zu uns wend, BWV 709
Toccata, Adagio e Fuga em Dó Maior, BWV 564
NOTAS AO PROGRAMA
Nicolaus Bruhns (1665–1697)
Praeludium em mi menor
Discípulo de Buxtehude, Bruhns deixou-nos um punhado de obras marcadas pela liberdade formal e pelo virtuosismo. Este prelúdio alterna secções livres e imitativas com grande expressividade, num estilo tipicamente nortenho-alemão.
Johann Sebastian Bach (1685–1750)
Trio super “Herr Jesu Christ, Dich zu uns wend”, BWV 655
Herr Jesu Christ, Dich zu uns wend, BWV 709
Duas abordagens distintas ao mesmo coral luterano: o trio, de escrita contrapontística refinada, faz parte da colectânea Leipziger Choräle, enquanto a versão BWV 709 é mais simples, mas de grande intensidade devocional. Ambas testemunham a capacidade de Bach para transformar uma melodia litúrgica em arte sublime.
Pablo Bruna (1611–1679)
Tiento partido de mano derecha
Conhecido como o “Cego de Daroca”, Bruna foi um dos grandes nomes da escola organística espanhola. Neste tiento partido, o teclado divide-se entre as mãos, permitindo um jogo de vozes contrastantes que cria uma textura rica e inventiva.
Heinrich Scheidemann (c. 1596–1663)
Praeambulum e Canzona em Fá Maior
Figura central da escola de Hamburgo, Scheidemann funde o contraponto renascentista com novas formas expressivas do barroco nascente. O Praeambulum e a Canzona demonstram elegância formal, fantasia melódica e uma clara influência do estilo italiano.
Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809–1847)
Sonata IV em Si bemol Maior, Op. 65 n.º 4
Parte de um ciclo de seis sonatas para órgão, esta obra reflete o neoclassicismo romântico de Mendelssohn. Alternando momentos de brilho e solenidade com passagens de profunda serenidade (Andante religioso), culmina num final majestoso que celebra a plenitude sonora do instrumento.
Jehan Alain (1911–1940)
Le jardin suspendu
Poética e introspectiva, esta obra evoca um jardim imaginário, “fora do tempo”, segundo palavras do próprio compositor. A escrita é subtil, impressionista, e convida à contemplação. Um momento de suspensão espiritual e tímbrica, num registo moderno e evocativo.
Juan Cabanilles (1644–1712)
Tiento de Batalla
Este tiento, de carácter marcadamente festivo e percussivo, insere-se na tradição ibérica das “batalhas” — peças inspiradas no ambiente bélico e cerimonial. Os ritmos incisivos e o uso expressivo dos registos evocam ecos de trompetes e tambores em celebração.
Georg Muffat (1653–1704)
Toccata VIII (Apparatus musico-organisticus)
Figura cosmopolita, Muffat uniu as escolas francesa, alemã e italiana numa linguagem rica e ecléctica. Esta toccata, de grande envergadura, combina ornamentos franceses, passagens de bravura italiana e o rigor estrutural germânico, espelhando o espírito europeu barroco.
Johann Sebastian Bach
Toccata, Adagio e Fuga em Dó Maior, BWV 564
Uma das obras mais originais de Bach para órgão. A Toccata inicial é brilhante e improvisada; o Adagio central, profundamente expressivo, antecipa o lirismo do romantismo; e a Fuga final reafirma a mestria contrapontística do compositor. Uma obra-prima que encerra o concerto com esplendor e elevação.